quarta-feira, 29 de junho de 2016

5 DICAS PARA NÃO ERRAR NO RAPEL

Paula Barbosa num pequeno rapel no Pico das Agulhas Negras/PNI

Depois de quase 20 anos no montanhismo é difícil de contar contas vezes fiz rapel, mas alguns ficaram marcados, como o dia em que escalei com o Marcelo Gonçalves a via CERJ lá no Capacete, em Três Picos. Depois de escalar por 7 horas (pequenos atrasos em umas erradinhas), chegamos à noite no cume do Capacete e um longo rapel estava a nos esperar. Bem, depois de errar a trilha, errar na via, minha preocupação era: Como encontrar o rapel num lugar estranho para mim no meio da noite? O Marcelo, bem tranquilo porque já conhecia, achou de primeira (Ufa!). O pessoal lá no abrigo foi dormir quando viram as luzes começando a descer pela pedra, tudo estava resolvido (para eles, para nós ainda tinha algumas horas para chegar ao calor das barracas).

No Curso de Iniciação a Escalada em Rocha ou Curso de Rapel que ministro, quando vou tratar sobre o Rapel eu costumo chamar a atenção dos alunos para o quão complicado pode ser essa prática tão simples.

Muitos acidentes com rapel ocorrem porque deixamos de prestar atenção nos detalhes. Na escalada, via de regra, os acidentes ocorrem por uma combinação de pequenas causas e, de imediato, a sensação de “dever cumprido” é a primeira delas. Quando chegamos ao final da via, já cansados, com fome, com sede, com dor e com essa “sensação” maravilhosa de dever cumprido, acabamos dando uma “relaxada”. É onde mora o perigo! Além disso, pode estar anoitecendo e você está sem lanterna, ou muito frio e você está só de bermuda, ou uma chuva de verão e seu anorak ficou em casa, enfim, várias coisas para deixar o rapel mais tenso.

Vou dar 5 dicas para você não se dar mal durante o rapel depois de uma longa escalada, algumas eu recomendo tomar como regra. Essas dicas também valem para você que é praticante do rapel ou Canyoning (descida de várias cachoeiras usando rapel), pois são básicas e não custa nada.

1 - Há trilha? Opte por ela!


Em meus cursos de escalada a primeira coisa que peço aos alunos é uma “lição de casa”, uma série de questões que eu envio a eles para responderem no dia do curso. Essas questões na verdade é um pequeno planejamento para a escalada, ou atividade que vai praticar. Costumo dizer que a diversão começa ainda em casa.

No seu planejamento verifique se há a possibilidade de descer por uma trilha para evitar o rapel. Pode até ser que seja mais longa ou demorada, mas é infinitamente mais segura do que ficar mais algumas horas pendurados na parede. Lembre-se, você vai estar cansado, com fome, com sede e com aquela sensação de “dever cumprido” que te relaxa. Além disso, pode estar anoitecendo, sem lanterna, estar frio e chovendo, cenário de terror para quem não está preparado, ou novato nas paredes maiores.

Reduzir o tempo de rapel na parede é uma maneira infalível para reduzir sua exposição aos potenciais erros.

2 - Nó na ponta da corda é regra!


Sempre ficamos sabendo de algum acidente que ocorreu com um escalador por ter escapado da corda durante um rapel.

Nó na ponta - Lebre da margem de segurança!
Se você acha que isso só pode ocorrer quando estamos em escaladas longas, está redondamente enganado. Há pouco tempo atrás houve um acidente em uma via esportiva em que a pessoa não percebeu que uma das pontas da corda não chegou ao chão. Quando a corda passou por sua mão ela despencou direto para o chão, resultando em fraturas nas pernas.

Se tivesse “fechado o sistema” com um nó na ponta da corda, teria interrompido a descida quando o nó tivesse chegado a sua mão. Outra coisa que poderia ter evitado a queda do escalador é ter como prática usar as duas mãos como freio, se uma mão falhar tem a outra. Essa é uma dica bem legal para quem faz rapel em cachoeira, onde o piso é liso e as quedas são frequentes.

Além disso, imagine que você perca a consciência durante o rapel, com um nó nas pontas da corda você não correrá no risco de escapar da corda. Um nó simples como um aselha duplo é o suficiente para que a corda não passe pelo seu freio.

Eu não sei quanto a você, mas eu gosto de uma margem de segurança grande, então quando falo em nó na ponta da corda não estou dizendo nos 10 centímetros finais, ok?!

Tome essa prática como regra, se não lembrar se deu o nó na ponta da corda, recolha a mesma e verifique. Isso pode salvar sua vida!


3 - Faça um back-up com um cordelete


Legal, você deu um nó na ponta da corda e agora está pronto para iniciar o rapel, mas imagine se logo na saída você perde o controle da frenagem, ou fique inconsciente? Sem problemas, tem um nó na ponta da corda e você vai parar nele. Perfeito não? Bem, não sei você, mas eu não gosto de cair 25 ou 30 metros. Pior ainda se for em uma via esportiva, que vou cair até o chão.

Back-p com cordelete (Foto Fmesp)
Para evitar que eu despenque desta forma, eu costumo usar um cordelete como um prussik na corda preso por mosquetão na alça da perna da cadeirinha. Essa laçada vai substituir minhas mãos caso eu perca o controle do rapel, ou fique inconsciente durante o rapel.

Além disso, caso eu precise fazer uma parada durante a descida, posso bloquear usando esse prussik, como por exemplo desenroscar a corda presa em algum ponto, ou prestar socorro a uma vitima, sabe-se lá? (sobre autoresgate clique aqui)


4 - Teste o sistema antes de se soltar


Uma vez fiquei sabendo de um acidente fatal que ocorreu com um escalador que ao iniciar o rapel perdeu o controle e despencou. Claro que ele não usava um back-up com um prussik e tão pouco o nó na ponta da corda, por isso fatal. Mas, não é curioso saber como foi que ele perdeu o controle da frenagem?

Quando estamos em um platô tudo fica mais confortável, inclusive montar o rapel. Bem, depois de passar a corda pelas proteções (jamais passar a corda em uma chapeleta heim) você passa a corda pelo freio e pronto, só descer. Mas veja, quando você está em pé num platô, sempre fica uma folga na corda “facilitando” sua saída do rapel. Se você não recolher essa corda que está sobrando, diminuindo a distância do seu freio com a parede, por um descuido você pode simplesmente cair para trás e perder o controle da frenagem, pois há uma “barriga” na corda.

Então, tome como regra sempre recolher a corda diminuindo a distancia entre você e a parede, ficando “sentado” efetivamente na corda, ao invés de pendurado em sua solteira. Ao fazer isso você vai testar o sistema estando preso à ancoragem pela solteira. Se por uma acaso você prendeu seu freio ao rack da cadeirinha ou na fita do saquinho de magnésio, eles vão se romper com seu peso, mas você ainda vai estar preso pelo autoseguro à ancoragem.

5 – Confira duplamente, faça um BRAKES 

(Adaptado de: JASON D. MARTIN – Climbing Magazine 08/06/2016)


Antes de sair para o rapel, faça uma dupla checagem no sistema todo. Passar em voz alta o sistema de siglas BRAKES desenvolvido por Cyril Shokoples há 10 anos é uma boa idéia. Você vai afirmando cada letra ao tocar a parte do sistema que você está verificando. Também, sempre que possível, confirme com o seu parceiro se cada componente do sistema foi colocado de forma adequada e que vai ser realizado corretamente.

B - Buckles: Verifique as fitas e fivelas em sua cadeirinha. Certifique-se de que elas estejam firmes e que todas as fivelas estão fechadas (vai que você foi ao banheiro quando chegou ao cume);
R - Rappel Device / Cordas: Verifique se o mosquetão preso ao seu freio está travado, se passou as cordas corretamente pelo freio (sim, já vi acontecer de passar apenas pelo mosquetão) e se a corda está passada pelas ancoragens de forma correta.
A - Ancoragem: Confirme que a ancoragem é resistente. Se é uma árvore, verifique se ele está viva, é grande o suficiente para sustentar o seu peso e que tem uma boa base de raiz. Se é uma pedra, garanta que ela não vai se mover. Se o rapel for em grampos ou chapeletas, confirmar que eles são a prova de bomba. Verifique duas vezes se qualquer fita está muito desbotada e se correntes, argolas, malhas rápidas não estão danificados.
K – Knots/Nós: Confira todos os nós no sistema. Certifique-se de que os nós que unem as duas cordas em um rapel com corda dupla estão corretamente efetuados e com chicotes suficientes. Aqui cabe a recomendação da UIAA para usar o aselha para unir cordas, deixando um bom chicote.
E – End: Confirme se as extremidades de suas cordas chegaram ao chão, ou que alcançaram a próxima ancoragem. Não se esqueça dos nós nas pontas da corda, é regra!
S - Segurança com back-up/ bordas afiadas: Use um back-up com um prussik e certifique-se de que você não está fazendo rapel sobre uma borda afiada que pode cortar sua corda.
Por ultimo, se alguma coisa aqui soou estranha para você, ou ficou com dúvida em algum ponto, em meus Cursos eu abordo no detalhe cada item dessas dicas.





terça-feira, 14 de junho de 2016

Cariocas da gema direto para Curso de Rapel em Campinas/SP

Talita Costa em seu primeiro Rapel
Nesse ultimo final de semana aconteceu algo muito legal para mim e quero contar para vocês. Tive o prazer de receber em meu Curso de Rapel duas Cariocas da Gema, que viajaram mais de 5 horas para vir em Campinas aprender sobre Técnicas Verticais.

Minha alegria se dá por que o Rio de Janeiro é uma referência em atividades de montanhismo e escalada. De certa forma, foi lá que surgiu o montanhismo e a conquista do Dedo de Deus, em 1912, é considerado o marco inicial do montanhismo no Brasil.
Rachel Ingrid na primeira descida

Elas vieram de longe porque reconheceram em mim competências técnicas que lhes deram segurança para aprender como praticar com segurança o Rapel e Técnicas Verticais e isso me deixou muito lisonjeado.

Em todos os cursos que ministro, seja ele de Rapel ou um Curso de Iniciação a Escalada, também tenho meu aprendizado, e neste não foi diferente. Temos que ficar atentos as formas como as pessoas estão recebendo a informação e reagindo, procurando mudar o método quando o resultado desejado não está sendo atingido da forma planejada.

Essas meninas deram uma lição de perseverança ao vir para o interior de São Paulo fazer um Curso de Rapel, pois não é fácil viajar quase a noite toda, vivenciar experiências novas e vencer os medos para entregar a sua segurança a um estranho. Por isso resolvi contar essa história para vocês, para expressar meu respeito e minha gratidão por elas e por todos os meus alunos, que me engrandecem a cada dia. .

Para finalizar, aproveito para compartilhar aqui os comentários delas no Facebook. Acho que eu consegui atingir um pouco as expectativas das cariocas. :

Aonde um nó feio, portanto incerto, pode acabar com a sua vida. Em contrapartida, quando executado de forma precisa, te proporciona momentos incontestáveis de prazer, reflexão e sabedoria.
Gratidão...(Talita Costa – Rio de Janeiro/RJ)
Raquel na parada e Highline ao fundo

Sabe, às vezes nos chateamos quando as coisas não dão certo na nossa vida e murmuramos. Então o tempo passa e percebemos que Deus tinha preparado algo muito especial lá na frente. É quando olhamos pra trás e agradecemos as cabeçadas.
Assim está sendo a minha história.
Um grande amigo me iniciou no Rapel por volta de 2009 mas a rotina me afastou das cordas até que depois de um período de sobrecarga de trabalho resolvi mudar hábitos e aumentar o meu contato com a natureza. Bati cabeça e não consegui ninguém pra retomar efetivamente o Rapel quando papai do céu colocou o Evandro Duarte no meu caminho. Muito feliz em conhecer um profissional tão comprometido que acima de tudo preza a segurança. Foi uma honra de verdade fazer esse curso.
Parabéns!!!
Suzi Mendes Moraes obrigada pela ajuda, parceria e apoio. Vocês são uns lindos!” (Rachel Ingrid – Rio de Janeiro/RJ)

Se interessou pelo Curso de Rapel em Campinas? Garanta sua vaga na próxima turma clicando aqui!


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Desafio das Vias Históricas - Grupo Colaborativo no Whatsapp

Logomarca do Projeto
Para quem é escalador, foi lançado hoje o Desafio das Vias Históricas, que nada mais é do que uma imersão à História do Montanhismo Brasileiro. Trata-se de um projeto independente e sem fins lucrativos, criado por amigos de escalada a fim de resgatar um pouco da história do montanhismo nacional, desafiando a comunidade de escaladores a percorrerem os caminhos trilhados por conquistadores do passado. O desafio vai durar até o dia 30/11/2016, data final para você enviar as informações de suas escaladas. A apuração dos pontos será feita na primeira semana de Dezembro de 2016, com resultado divulgado em 10/12/2016.



Nessa primeira edição serão 39 vias clássicas distribuídas pelos estados de Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro que os escaladores poderão completar e registrar em seu “passaporte”. Sim, ao se inscrever no desafio você receberá um passaporte contendo as vias selecionadas com suas respectivas pontuações. Eu andei dando uma olhada e vi que tem vias para todos os gostos e, diga-se de passagem, só filé. A escolha das vias foi feita por escaladores colaboradores com grande conhecimento em cada estado.

Lista das vias de São Paulo
Para participar você deve entrar no site www.desafioviashistoricas.com.br fazer sua inscrição e aguardar chegar seu passaporte para imprimir e montar. Depois é só planejar e tocar pra cima. No site tem as regras do desafio, um pouco da história do montanhismo brasileiro e o mapa das vias. Quando você escalar uma via do desafio, você deve tirar uma foto no local com o passaporte e depois encaminhar para a organização do evento juntamente com o relatório da via (lá no site tem o modelo).

Claro que eu não pretendo ficar de fora dessa brincadeira, mesmo porque o grande objetivo do Desafio das Vias Históricas é de divulgar o montanhismo nacional e fazer com que novos escaladores conheçam (e sintam) um pouco mais dessa história tão rica.

Mas, uma recomendação que eu faço aqui é que defina com seu parceiro aquelas vias que vocês realmente estejam aptos para escalar. Por que eu digo isso? Bem, a pontuação das vias é dada levando-se em consideração as seguintes características: grau médio, grau máximo, comprimento e presença de escalada em artificial. O valor total da pontuação da via é a soma dos pontos parciais de cada uma dessas características. Então, como há vias que tem grau de exposição alto, ou que tenha passagens em artificial, é bom você e seus parceiros terem conhecimento dessas características para não entrarem em roubadas.

Eu já fiz uma lista das clássicas que desejo escalar. Digo desejo, porque pode haver problemas no percurso e temos que mudar o plano. E posso dizer que fiz escolhas bem interessantes, dá uma sacada na lista: 

Agulha do Diabo - Parnaso/RJ
  • Dedo de Deus – Via Leste (PARNASO/RJ);
  • Agulha do Diabo – Via Normal (PARNASO/RJ);
  • Capacete – Via Cerj (Três Picos/RJ);
  • Pico Maior – Via Leste (Três Picos/RJ);
  • Prateleiras – Via Chaminé Idalicio (PNI/RJ);
  • Pico das Agulhas Negras – Via Longitudinal (PNI/RJ);
  • Pedra do Baú – Vias Normal, Cresta e Teto do Baú (São Bento do Sapucaí/SP);
  • Pedra da Ana Chata – Vias Peter Pan, Lixeiros (se não tiver marimbondo!) e Elektra (São Bento do Sapucaí/SP);
  • Pico do Marumbi – Vias Fendas Principal, Enferrujados e Maria Buana (Morretes/PR)


É uma lista incrível e um tanto pretenciosa talvez, mas o objetivo é se divertir e fazer parte dessa história mágica, escritas nestas paredes gigantescas. Posso dizer como um amante do montanhismo, que chegar ao cume do Dedo de Deus e se deparar com os grampos desta que foi considerada uma das maiores conquistas e dada como marco do início do montanhismo em 1912, é algo emocionante. Espero que você também possa viver essa emoção.

Inclusive, para que mais pessoas possam ter essa chance, quero fazer um convite. Estamos eu e Suzi Mendes, fazendo um planejamento para poder completar a lista acima (quem sabe algo mais). Por isso, se você tiver alguma dúvida, ou alguma sugestão para dar vamos fazer esse intercâmbio de informações, estamos à disposição para colaborar com o que for possível. E este talvez seja o principal interesse do desafio, proporcionar o intercâmbio entre os escaladores nas diversas regiões do país.

Três Picos ao Fundo - Nova Friburgo/RJ
É isso aí, vai lá fazer sua inscrição e convida os amigos para participar e bora fazer parte dessa grande história chamada Montanhismo Brasileiro.

Conforme formos acrescentando vias em nossos passaportes vou contando aqui no Blog Evandro Duarte – Montanhista como foi cada escalada e dando uns betas para vocês que queiram tentar as vias que fizermos. Além disso, estou criando um grupo colaborativo no Whatsapp, para que as pessoas possam combinar viagens e dividir custos com gasolina, pedágio, estadia, aspirações, dores, mentiras e tals. Caso você queira fazer parte dessa trupe, envie seu celular para meu email: evandro@caventuras.com.br.


Boas escaladas!